09/11/2006

Sandinistas voltam ao poder na Nicarágua, mas agora com uma política à direita

O ex-guerrilheiro e candidato da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), Daniel Ortega, venceu as eleições presidenciais na Nicarágua no primeiro turno. Com 91,48% dos votos apurados, Ortega recebeu 38,07%, contra 29% do banqueiro Eduardo Montealegre, da Aliança Liberal Nicaragüense (ALN).

A campanha eleitoral expressou a profunda polarização social existente no país. A Nicarágua é uma das nações mais pobres da América Latina, ao lado do Haiti e Honduras. A pobreza extrema atinge 5,2 milhões de nicaragüenses. Das crianças com menos de 5 anos, cerca de 35% sofrem com a desnutrição. O desemprego afeta 53% da população. A miséria e a pobreza extrema são as molas propulsoras do enorme fluxo de imigrantes nicaragüenses que seguem ilegalmente para os Estados Unidos em busca de um “futuro melhor”.

Depois de ter sido derrotado por três eleições consecutivas, o ex-líder guerrilheiro Daniel Ortega despontou como o candidato favorito depois que assumiu um discurso de “candidato dos pobres” e prometeu a realização de programas sociais compensatórios como o “Fome Zero” e o “Desemprego Zero”.

O imperialismo interveio claramente durante todo processo eleitoral, tentando fazer chantagens contra a população dizendo que a eleição de Ortega seria um “desastre para a Nicarágua”. A desconfiança dos EUA em relação a Ortega reside no seu passado de lutas contra o imperialismo, durante a revolução sandinista. Ortega, hoje com 60 anos, tentou aparecer como um candidato confiável ao imperialismo, moderou seu discurso dizendo que “estava disposto a manter boas relações” com Washington, comprometeu-se a manter as políticas de livre comércio e fez alianças com setores das tradicionais oligarquias do país. Ele se aliou a setores da Igreja Católica, representados pelo Cardeal Miguel Obando e ao ex-banqueiro Jaime Morales Carazo. A campanha de Ortega mostra de forma inquestionável as profundas transformações políticas ocorridas na FSLN desde sua derrocada em 1989. E serve como um exemplo da rendição de ex-guerrilheiros que abandonaram as trincheiras e passaram a defender o regime democrático-burguês.

Ortega mora hoje numa mansão confiscada de um parente de Somoza. A vitória de Ortega se insere no marco da situação revolucionária latino-americana que produziu uma onda de governo de Frente Popular – de coalizão entre partidos de esquerda e burgueses.

A exemplo de outras Frentes Populares, Ortega combina um discurso de “combate às desigualdades”, prometendo implementar políticas sociais compensatórias, como o Bolsa Família de Lula. Mas no campo econômico não há nenhum horizonte de rupturas com neoliberalismo. É nisso que consiste seu programa de “corte social”.

Os trabalhadores da Nicarágua, com sua larga experiência revolucionária, não devem depositar nenhuma confiança no governo Ortega, que já os traiu no passado. A lição da revolução sandinista mostra que apenas a luta direta e independente da burguesia pode fortalecer a construção de uma sociedade justa e igualitária. Uma sociedade socialista.

Nenhum comentário: